segunda-feira, 21 de maio de 2012

Back and Alive!

Nunca, em momento algum, duvidei eu da minha capacidade de retornar viva (e inteira) da minha aventura, mas agora que estou sã e salva de volta à Invicta, tenho que admitir que o nervosismo era algum. Aproveito também para dizer que sabe extremamente bem ter coisas novas para narrar neste cantinho! eheh :D

Pois bem! Terça-feira lá fui eu, rumada à margem-sul com o objectivo de ir buscar a pick-up e ser posta a par dos procedimentos da empresa que teve a (in)felicidade de me contractar :D tinha combinado ás 5 com a secretária, mas para variar cheguei antes da hora. Sem stresses, antes adiantada que atrasada. Logo fui apresentada aos dossiers de procedimentos, quer de empréstimo de viaturas e outro material, quer de metodologias de campo. A sede da empresa pareceu-me mais uma vez um local estranho. Sei bem que é um local de trabalho, mas ver tudo tão calado em frente ao computador e concentrado a trabalhar, pareceu-me fora do comum digamos. Concentrei-me nos dossiers e li tudo o que me foi apontado. Seguidamente trouxeram-me um contracto para assinar, o qual eu li com toda a atenção e fiquei a saber que para além de trabalhar em Castro Daire irei provavelmente também trabalhar na Lousã. Oh que xato :) Tudo lido e assinado e ainda fiquei à espera que a rapariga que tinha a carrinha que eu ía levar chegasse. Já passava das 6 da tarde quando ela finalmente chegou e enquanto punha tudo em ordem e preparava o meu material, fui com a secretária conhecer a carrinha. A primeira impressão foi que era muito fixe :D a segunda é que era muito grande e não dava jeitinho nenhum, mas overall, não era mázinha :) revisto o estado da carrinha (não havia amolgadelas novas) e apresentada a ficha e documentos da viatura, regressamos á sede para levar o material e ainda tive direito a uma última explicação por parte da técnica que lá estava sobre o que tinha exactamente que fazer.

Tudo pronto e faço-me à estrada. Depois de controlada a adrenalina posso dizer que correu tudo bem. Não me enganei no caminho e consegui chegar a casa feliz e satisfeita comigo própria. Era o aniversário da minha mãe e ela estava mais entusiasmada com tudo isto do que eu! A cara dela irradiava felicidade quando entrei em casa, misturada com um quê de orgulho no seu (já não tão) pequeno rebento. "Boa Filha!" dizia-me ela. "Mulher aventureira! É assim mesmo!". É um sentimento um tanto para o infantil, mas sabe bem quando conseguimos deixar os nossos pais orgulhosos de nós. E melhor ainda quando eles nos conseguem contagiar com o seu orgulho e deixar-nos orgulhosos de nós próprios :) mas continuando... jantar tomado, mapas inspeccionados, percursos revistos e ordem de trabalhos planeada, e cama que amanhã sim começa a aventura! :)

A8 até Leiria, A1 até pouco depois de Coimbra e de seguida IP3 até Viseu. Sem pressa, a cantarolar o que ía passando na rádio e a apreciar a paisagem (principalmente na IP3, que para além de poder andar no máximo a 90, estava em obras e com transito, obrigando-me algumas vezes a ficar mesmo parada), foi uma viagem agradável :) O nosso país é sem dúvida fantástico e com vistas de cortar a respiração! Por fim, entrei na A24 e começaram a aparecer as ditas ventoinhas em montes vestidos de verde e amarelo. Lindo =) Saí na saída mais perto do meu destino e depois de ter chegado à cidade com o caricato nome de Tarouca e ter andado meia perdida, lá dei com a residencial. Olhares curiosos de quem sabe facilmente identificar uma forasteira, fui levada ao meu quartinho, arrumei as minhas tralhas, comi a sandes que tinha trazido de casa e fui em busca do parque eólico. Gps de campo com os percursos e pontos marcados, e siga. Escusado será dizer que me enganei umas quantas vezes nas cortadas até chegar finalmente ao parque, mas cheguei :) 1a impressão? fantástico! estes caminhos são um espectáculo! 2a impressão: porque raio têm cancelas fechadas à chave que me obrigam a ir pelo meio do mato e dos pedragulhos? Ai vida a minha... velocidade média entre os 10 e 20 km/h, tracção ás 4 ligada que não me apetece dar cabo do carro. E eu que pensava que os caminhos da reserva da faia brava eram maus... são óptimos! Mais uma vez andei meia perdida, mas lá dei com os caminhos e fiz 2 dos 3 pontos de rapinas. Estes consistiam em ficar parada num ponto durante 1h a registar todas as rapinas que passassem e marca-las no mapa. Estive quase 1h a olhar para o ar, baralhada com muitos dos sons que escutava nos matos, e sem avistar qualquer bichinho grande. Quase no final da hora, um Tartaranhão-caçador (Circus pygargus), lá decidiu dar o ar da sua graça e voar bem à minha frente junto aos matos, para depois se afastar e ganhar altitude junto aos aerogeradores. Já não via uma criatura destas há algum tempo e como estava munida de telescópio pude acompanha-lo durante algum tempo =) são tão fixes :) tudo terminado e voltei para a residencial onde depois de um agradável banho, desci até ao café onde jantei qualquer coisa enquanto vi uma série que estava a passar na televisão, comprei o pequeno almoço e almoço do dia seguinte, e me retirei para uma merecida noite de descanso. Mal imaginava o que me esperava no dia seguinte...

4 da manhã foi a hora da alvorada. Arranjar-me, pequeno almoço, sair de casa, perder-me, encontrar-me, chegar ao parque ainda antes de amanhecer. Frio, vento e com o nascer do dia, por volta dessas 6, neblina... Muita. Oh well. Cotovias de crista (Galerida cristata) por todo o lado, alguns chascos (Oenanthe oenanthe) e algumas sombrias (Emberiza hortulana), assim como cartaxos (Saxicola torquatus) e toutinegras-do-mato (Sylvia undata). As habituais dúvidas à parte, estava tudo a correr bem. Até que por essas 9... já só me faltavam 2 pontos de censos... consegui deixar a minha marca no carro. Pois é... caminho enlameado, buraco com água numa das rodeiras e eu (que já aqui tinha passado no dia anterior sem problemas), num momento de pura estupidez ou má decisão sei lá, tentei fugir a tudo isto pelo lado errado. Quando dou conta tenho o carro encalhado, sem andar nem para frente nem para trás, e qual não é o meu espanto quando vou para sair e reparo que estou um bocadinho longe do chão. Pois é... isso e tenho a roda esquerda de trás no ar. Meia dúzia de tentativas parvas e desesperadas de tentar remediar a situação e nada. Enfrento a realidade e faço-me ao monte. Mochila ás costas e atalhar caminho por entre os matos que tenho trabalho para acabar. 3km até algum resquício de civilização, podia ser pior. Felizmente ainda há quintas e coisas do género... Interrompo um sr de enxada na mão de volta dos seus terrenos e seguimos de tractor. Eu rapidamente desisto de ir em cima dele (só tinha um lugar e ir empoleirada num caminho tão irregular dá bem mais trabalho do que simplesmente ir a pé). Depois de uns 40 minutos lá chegamos ao carro, prendemos a corda ao carro e ao tractor e... momento de suspense e que na minha cabeça parece que durou uma eternidade. O tractor a andar, a corda a esticar e a esticar, e o carro sem se mexer... para mim, aquela corda ía rebentar a qualquer momento! Mas felizmente o carro lá cedeu! Agradeci ao sr o mais que pude e continuei caminho... ainda tinha trabalho para fazer! No entanto, quando olhei para o parachoques... não queria acreditar. Estava amolgado e uma das peças de lado estava quase solta e com os encaixes partidos. Oh vida cruel... tinhas que me pregar uma partida destas não era? Tentei não stressar... só tinha que entregar a carrinha na segunda por isso ainda tinha tempo de tentar arranja-la no fim de semana.

O resto do dia foi bastante tranquilo, voltei a ver o tartaranhão, vi cucos pertinho, e ainda consegui dormir uma pequena sesta que foi interrompida com a chegada de um carro. Quem era? Uma trabalhadora da mesma empresa que vinha para a prospecção de cadáveres no parque éolico. Passado o momento de confusão em que pensámos que estávamos ali para o mesmo e que isso não fazia sentido nenhum já não tínhamos sido avisadas, lá nos entendemos e cada uma foi à sua vidinha. Fiz o meu último ponto de rapinas e já quase no fim recebi outra visita, desta vez um senhor a passear com a sua cadelinha. Deixei-o deambular sobre o tempo em que percorria aqueles montes com o seu rebanho de ovelhas, e também como algumas tinham sido mortas por lobos. Lobos esses que eram agora ali largados por pessoas que os traziam da Serra da Estrela. Or so he believed. Bem tentei explicar-lhe que ninguém andava ali a soltar lobos, mas ele não se acreditou e disse-me que tinha visto um no outro dia. Se é verdade ou não... não sei. Voltei á residencial e por essas 9 e meia, na falta de companhia melhor (:P), agarrei-me aos lençóis e dormi como uma pedra.

A manhã seguinte foi muito mais agradável. Para além de não ter tido imprevistos, o local (apesar de não ter hortulanas) era bem mais engraçado :) Mais uma vez cheguei antes do amanhecer... no ar reinava um cheiro a terra húmida e fruta madura, algo que nunca pensei voltar a experiênciar fora do brasil. Não sei bem descreve-lo, mas sei que fiquei maravilhada. Embora ainda escuro, a passarada já cantava desenfreadamente! Melros, carriças, papa-figos e muitos rouxinóis. Esperei o amanhecer dentro do carro com os vidros abertos para ouvir os bichinhos e quando começou a clarear dirigi-me a pé para o primeiro ponto. Não estava com paciência para andar com o carro para trás e para a frente quando era muito mais agradável caminhar. Tudo sob controlo, excepto quando tinha demasiadas coisas a cantar ao mesmo tempo, e um determinado bichinho que me parecia uma toutinegra, mas com um comportamento pouco conspícuo a cantar em cima de arbustos e coisas que tais, que não consegui ter certezas até chegar a casa e esclarecer o canto. Eram Sylvia communis :D mais um bichinho novo para mim ^^ Por essas 11 e pouco já estava de volta á residencial e como me tinha dado o sono pelo caminho optei por dormir um pouco antes de fazer a viagem de regresso a casa.

Sesta dormida e pus-me a andar. Não sabia exactamente o caminho de volta à A24, o que me levou a seguir placas que me mandaram subir a serra e andar meia perdida, mas valeu a pena. A paisagem era fantástica e lá acabei por dar com a entrada para a auto-estrada. Começo a acelerar, e quando estou a chegar aos 100, a peça que estava meia solta, solta-se por completo e vejo-a ficar para trás pelo retrovisor. Era só o que me faltava xD momentos de indecisão entre voltar ou não voltar para trás e lá acabo por sair, voltar atrás, voltar a entrar, parar o carro perto da peça, apanha-la e agora sim, seguir viagem até casa, onde sou mais uma vez recebida com um grande sorriso da minha mãezinha e um "Parabéns! Conseguiste! :D És uma bióloga a sério!!". Como grande mulher que é, desenrascada e dos 7 ofícios, meteu-se logo de martelo na mão de volta da carrinha a tentar meter o parachoques no sítio. E só não ficou perfeito, porque aquela treta era de plástico e como dobrou, não dava para ficar melhor. No dia seguinte colamos os encaixes da peça que se soltou, aparafusámos (com muito esforço uma vez que o espaço era pouco), e ficou quase como nova =) tanto, que hoje quando fui entrega-la, a secretário comentou qualquer coisa como "nunca vi um atolanço tão perfeitinho". Mal ela sabe que não era assim tão perfeitinho eheh.

E pronto, assim se passou mais uma semana, o meu pai veio visitar-nos no domingo, o que também foi agradável já que não o via há uns tempos. Hoje estou de volta ao Porto e amanhã Cibio...!

Agora dormir que já está mais do que na hora!

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Reflexão

Apetecia-me começar este post com um "há um momento na vida de cada um de nós..." mas mesmo antes de o fazer deparei-me com a possibilidade de isto não ser exactamente verdade, pelo que optei por não o fazer e antes reformular o meu raciocino... Ainda nem comecei e já compliquei isto tudo. Great.
Anyways... sabem quando as prioridades da mente são diferentes das do coração? E passamos a vida a seguir as da mente e a arranjar desculpas para as outras? E sabem quando as circunstâncias da vida fazem o favor de vos abalar as prioridades? Ou simplesmente agitar a balança levando-vos a reavalia-las todas? Pois é. Volta e meia deparo-me com situações destas. Que mexem comigo e me dão uma vontade enorme de mudar. De ter coragem e correr atrás do desconhecido. Sim. Porque eu tenho esta necessidade enorme de me por à prova. De mostrar a mim própria que sou capaz do que quiser. E sou. Eu sei que sim. A questão prende-se com o que acontece quando corro atrás duma coisa que não quero realmente (embora por vezes eu até ache que sim). Frustração. Muita. Doses e doses dela. Mas voltando ás coisas que me puxam o tapete e me atiram ao chão. Este fim de semana fui passear. Figueira de Castelo Rodrigo, Reserva da Faia Brava, foi (entre outros) o destino. E não me parece a mim normal, que se aquilo fosse um lugar igual a tantos outros, que entram e saem da minha vida, que o meu coração palpitasse de cada vez que lá volto, que a minha alma sorrisse com cada vale e monte que percorro, cada por-do-sol que avisto no horizonte, cada luz que contemplo num céu estrelado, que o meu ser chorasse de cada vez que me venho embora. E sim é verdade. Não consigo evitar o coração apertado e a vontade tremenda de nunca mais sair de lá. Não sei explicar porque não tem explicação. E não é aquele sentimento muitas vezes associado ao local onde passamos férias. E que é maravilhoso não só porque é maravilhoso, mas por um conjunto extra de condições que o tornam especial. Vivi lá um ano e nada naquele lugar perdeu magia. Muito pelo contrário. E quanto mais tempo passa, e mais vezes lá vou, mais tenho a certeza. Ali sinto-me em casa. Tanto que ontem na viagem de regresso, dei por mim a pensar que não me importava de arranjar um emprego qualquer só para poder viver ali. Qualquer coisa. Até podia ser um part-time. A dar explicações aos miúdos da escola, ou mesmo numa loja ou supermercado. Desde que tivesse o suficiente para me sustentar e tempo livre para me dedicar ao projecto que ali nasceu, seria feliz. Eu sei que pode parecer estúpido. A mim parece-me estúpido. Mas é o que sinto e quanto a isso batatas. E que prioridades é que isto vem abalar pode alguém perguntar? O mestrado... aquela coisa mentalmente estimulante, que me espicaça a curiosidade científica, mas que não mexe realmente comigo. Foi uma decisão da qual não me arrependo, tomei-a simplesmente para me abrir portas, mas sei bem que no fundo a maioria delas não me interessa verdadeiramente. Não vou desistir na recta final, não, isso não faria qualquer sentido. Mas que neste momento não me xateava muito se tivesse que o fazer, não. A verdade é que vou termina-lo simplesmente porque gosto de terminar o que começo, porque apesar de tudo sei que é bom para a minha formação, e porque não o fazer nesta fase seria de uma grande irresponsabilidade minha e um grande desperdício de tempo perdido. A verdade é que cada vez que penso no que sonhava quando era pequena, sinto que me afastei do meu caminho. E embora os nossos catalizadores de felicidade mudem com o tempo, não posso dizer que neste momento estou a fazer o que sempre quis. A verdade é que não pude deixar de concordar com o comentário "Que grande seca" quando tentei expor o meu tema de tese a uma pessoa "normal". A verdade é que fazer tapetes de argila sob um sol escaldante para tentar ver pegadas de mamíferos é duro, mas tem bastante piada. A verdade é que eu nunca quis investigação. E nunca quis escrever artigos. Não porque achasse que não tinha capacidade para tal, mas porque não tem piada. A verdade é que com o avançar da nossa formação académica começamos a sentirmo-nos num rank superior e que trabalhos mais simples são um desperdício do nosso conhecimento e capacidades. Começamos a achar que temos que nos dedicar a algo "digno" da nossa formação. Que como cientistas temos mais é que continuar a aprender e a descobrir. E o nosso cérebro estimula tudo isto. Porque apesar de tudo temos a curiosidade e as bases para achar certos assuntos interessantes sob o ponto de vista teórico. E por vezes conseguimos convencer-nos que gostamos disto e daquilo e embrenhamo-nos num mundo que não nos diz nada, mas que passa a ser nosso. Não quero. Se são as coisas simples que nos deixam feliz, então porque não? Por que não ser tratador de animais num qualquer zoológico? Por que não ser técnico de campo numa qualquer empresa? Por que não ser guia de natureza? Estou a precisar seriamente de cometer "uma loucura" :) mas tenhamos calma, que as ideias levam tempo a amadurecer, e as coisas a acontecer. O mais importante é saber. Depois de plantarmos na nossa cabecinha o que queremos, o resto é uma questão de tempo. Por agora escrever a tal de tese, dar o meu melhor sem querer saber muito da nota... já lá vai o tempo em que me preocupava com isso. Amanhã começo a minha aventura no mundo da monitorização, Bio3 2nd challenge aqui vou eu! É todo um conjunto de situações novas para mim, mas estou entusiasmada! Como poderia não estar? Primeiro ir buscar a pick-up a Almada e depois fazer-me à estrada até Castro Daire. Como no início de outras aventuras, hei de ser guiada pela inexperiência e ajudada pela inocência =) com um bocado de sorte fico na pousada da juventude de são pedro do sul e ainda vou mandar um mergulho ^^ não percam os próximos episódios! :D