Sempre que conheço pessoas novas, sempre que vou jantar/sair a algum lado, repete-se o ritual. Pouco depois repetem-se as questões...
Mas já provaste? Não gostas? Porque é que não bebes então? Prova só um bocadinho! É bom, este é docinho! Que raio de rapariga, não come carne, não bebe café, não bebe alcool, não tens piada nenhuma.
A creatividade é tanta que normalmente já sei o que me vão dizer... E se normalmente me fico pelo "porque não me apetece. nunca tive curiosidade de experimentar e só o cheiro mete-me nojo (e mete!)", a verdade é que há todo um outro conjunto de razões das quais me tenho vindo a aperceber com o tempo e as quais raramente me dou ao trabalho de partilhar.
A verdade é que toda a minha família tem um historial um tanto para o triste. Pai que bebe demais, passa as noites fora de casa a estourar o dinheiro que tanto custou a ganhar à minha mãe e os dias inutilmente a dormir, só faz disparates e chateia-se com toda a gente, avó paterna que devora garrafões de 5L de vinho às escondidas e volta e meia está no hospital, avô e avó maternos que passam as tardes nos copos e depois descarregam em todos ao seu redor, e bisavós idem-aspas. É um historial longo, de várias gerações, de pessoas com problemas em controlar-se no que a esta bebida mágica diz respeito. Evitado será dizer que vi muitos natais amargurados por este solta-línguas, mas pior que isso, vi como arruinou a vida do meu pai e como fez sofrer a minha pobre mãe...
Penso assim que será compreensível o facto de nunca ter tido a menor curiosidade em sequer experimentar. E se por vezes me interrogo como seria a minha pessoa com os copos, e de como até seria agradável conseguir "libertar-me" uma vez por outra, depressa me lembro que se calhar não é muito boa ideia. Que os genes que trago comigo são demasiado propícios ao desastre. E que embora acredite na minha capacidade de auto-controle, nunca vi esta bebida trazer felicidade a ninguém, no mínimo, algumas figuras tristes, e uma carteira bem mais leve.
Se me divirto? Divirto :) e bastante! Pode é ser com coisas parvas sem piada nenhuma. É a vida. E se a minha fosse igual à dos outros, não teria graça nenhuma :)