9 pm.
O sol já se escondeu no horizonte. No céu reinam aquelas cores fantásticas características do fim de um dia de verão. A mistura de algumas núvens torna tudo mais suave, mais perfeito. Gosto deste meu cantinho. Viver num segundo andar tem as suas vantagens =) Debruçada na janela vejo o anoitecer chegar. As gaivotas (chatas) não se calam... mas a sua companhia é até reconfortante... =) vejo-as esvoaçar em manobras para mim complicadas enquanto parecem tentar convencer as crias a deixar a segurança do ninho. Parece assustador. Com cuidado e precaução aproximam-se ligeiramente das bermas. A curiosidade é alguma, mas falta a coragem. Os pais não desistem. Exibem-se em voos fantásticos enquanto reclamam vigorosamente. As crias aninham-se e ignoram os incentivos. Ainda não está na hora. Olho para elas e não consigo deixar de pensar o quão assustador deve ser... cometer a loucura de saltar para o vazio e esperar que os teus instintos te saibam guiar. É o momento do tudo ou nada... deixar para trás tudo o que se conhece... abandonar a segurança e enfrentar o inimaginável... o começo do muito que ainda está para vir. De certa forma, acho que conheço a sensação, embora de forma não tão drástica. Posso dizer que a viagem para o Brasil foi um pouco isto. Se voltei diferente? Voltei. E tudo mudou desde então. Não sei se para melhor, se para pior, mas suponho que tenha sido de tudo um pouco. Tenho saudades. Saudades dos tempos em que me perdia a contemplar uma lua brilhante, gigantemente perfeita num céu apagado... a sonhar... com tudo e com nada... Saudades dos tempos em que a vida me parecia uma aventura infindável... e os seus mistérios, magia pura... Saudades dos tempos em que acreditava no... enfim... Será que cresci? Talvez... de repente acentei os pés na terra e deixei de sonhar. Não me perguntem porquê mas desapareceu... perdi o rumo e agora sigo por onde a vida me leva na esperança que um dia me recorde do que o me trouxe até aqui. Não gosto. Não gosto mesmo nada... mas a inocência e a ingenuidade que antigamente me guiavam perderam-se algures pelo caminho. O mundo cor-de-rosa há muito que se extinguiu. O acreditar que tudo pode ser perfeito quando o desejamos do fundo da nossa existência e nos entregamos de corpo e alma talvez não passe de uma ilusão... Gostava de não pensar assim. Não gosto de pensar assim. No entanto é isso que tenho vindo a descobrir... e embora tente suprimir com todas as minhas forças esta tristeza que me assombra, num sorriso de quem sabe que, apesar de tudo, um dia vai encontrar o que procura, ás vezes deixo-me descansar um pouco para depois poder voltar á guerra.
ai ai... as luas cheias continuam a dar-me para estas coisas... enfim... haja alguma coisa que me recorde que sou apenas uma parte, dum todo bem maior...
Sim, as luas cheias mexem sempre com uma pessoa...pelo menos comigo também mexem.
ResponderEliminarEstava a gostar muito de ler o que escreveste Vanessa. Até chegar à última parte, acredito que não perdemos a nossa inocência e ingenuidade...acho que inconscientemente aprendemos que podemos ignorar parte de nós e continuar com a nossa vida, pensado assim que estamos menos expostos ao mundo e com menos hipótese de sofrer. Eu não quero estar a falar demasiado nem quero mergulhar demasiado nos teus sentimentos, por favor não tenho qualquer intenção de magoar ou "cuscar". Espero que não leves a mal as minhas palavras e espero sinceramente que reencontres o que ainda está em ti.
Força =)
eu sei :P eu também não gosto :) no entanto é a verdade... embora concorde contigo e tenha noção que não é nada mais que um mecanismo de defesa. Não gosto é de o ter activado... :P
ResponderEliminarthanks =)