quarta-feira, 10 de julho de 2013

A hell of a week

Esta semana tem sido muito intensa! Tanta coisa a acontecer e a mexer comigo num curto espaço de tempo!

Primeiro foi o aniversário da Aldeia. Evento engraçado, com muita música que mexe comigo, me leva às raízes, cheio de gente apaixonada pelo planalto Mirandês, gente da Terra. Deu para relaxar, comungar com a Natureza, limpar a mente e a alma :) mas também deu para ouvir falar de associativismo, e quase ficar com vontade de montar uma produção de mel neste cantinho do país, viver da Terra e com a Terra. Ah... tantas maluqueiras que me passam pela cabeça. Uma coisa é certa... a ânsia duma vida pouco académica e mais rural é mais que muita... Quem sabe um dia, quem sabe :)

Domingo foi dia de soltar o bichinho do qual tomei conta por quase um mês. O Florzinha :) Já estava bonzito da asa e com vontade de voltar aos céus. Apesar de todos os receios e dúvidas, que nem mãe preocupada com o seu filhinho, lá o soltámos no vale do Sabor ao qual pertencía. O voo foi duvidoso, a perder altitude em direcção ao vale. Rapidamente o perdi de vista e o coração ficou-me nas mãos. Será que fizémos bem? Será que estava na altura? Será que nos precipitámos? Será que ele caiu? Será que acabou por conseguir ganhar altitude? Será que vai conseguir alimentar-se sozinho? Encontrar o abrigo? Tantas questões. Nenhuma resposta. A dúvida vai para sempre ficar-me no coração. Dúvido que alguma vez o consigamos recapturar. Mas fica a esperança. A esperança que tudo correu bem e que fizémos tudo o que estava ao nosso alcance para que o bichinho ficasse bem :) 


Segunda-feira foi dia de capturas. Correu tudo bem. Não muitos bichos. A dúvida do efeito da nossa amostragem na colónia dos bichinhos. Será que os perturbamos em demasia? Será que abandonam o abrigo por nossa causa? Mais uma vez, dúvidas sem resposta. Voltamos para casa já de madrugada e acordamos pela hora de almoço. Tarde ao pc e fim de tarde a processar os bichinhos capturados de manhã a fim de os soltar ao anoitecer. Pela aldeia reinava um clima pesado. Um rapaz da GNR tinha-se suicidado e a aldeia encheu de gente para o funeral. Carros por todo o lado. Pessoas a ouvir a missa já no átrio da igreja. Ao longe, no horizonte, vários sinais de incêndios. Mal imaginávamos nós o quão grave eram. A seguir ao jantar, seguimos como normalmente para a libertação dos bichinhos, mas nem conseguimos chegar perto das pontes. O horizonte era agora um espectáculo de luzes vermelhas. Cenário macabramente belo e aterrador. A nossa área de estudo, o espectacular vale do Sabor, a minha fonte de motivação e de sentimento de sorte em poder aqui trabalhar, em chamas vivas... Não demorou até começar a deprimir. Não queríamos acreditar. Não poderia ser real. Não poderia estar a acontecer. Não. Era mau demais. Mas era verdade. E enquanto nos debatíamos com a realidade, carros e jipes de bombeiros passavam para trás e para a frente, tentando a todo o custo que o incêndio chegasse ás povoações. Apaga-lo, impedir que destruísse a área, era uma tarefa impossível. O vale encaixado e a falta de acessos são uma realidade. A verdade é que quando um incêndio é controlado, é porque não tem mais por onde arder. A única coisa que conseguimos fazer nestes locais é tentar evitar que cheguem ás casas. Soltar os bichos passou a estar fora de questão. Voltamos para casa com tudo dentro da caixinha e muitas dúvidas na cabeça. Quem sabe amanhã esteja tudo apagado e dê para os soltar. O que vai ser de nós? Dos bichinhos? De todo o trabalho feito até agora? O plano de doutoramento do FA acabou de ir para o lixo. Os meses e meses de monitorização do vale a fim de tentar perceber o efeito da barragem também. E agora?

O cenário de manhã era mais animador do que eu imaginava. As encostas junto ao rio, embora tivessem ardido totalmente, devem ter ardido rápido, de modo a que uma boa percentagem das árvores tenha ficado mais ou menos incólume. Algumas encostas safaram-se por completo. Outras ficaram totalmente carbonizadas. Numa das pontes alguns bichinhos. Parece que não fugiram por completo. Talvez voltem. Talvez se safem. A ver. Fica a esperança que a zona recupere... aos poucos.


Sem comentários:

Enviar um comentário