É daquelas que te
atingem aquando da tua transição de jovem para jovem adulto. A mim deu-me
agora, ao quarto de século. Suponho que até faça sentido... ou não.Dou por mim a pensar
que rumo quero dar à minha vida. Que valores considero importantes e quero
incorporar na minha forma de estar e viver. Que quero eu fazer com o meu futuro
profissional? E o sentimental? São só questões. Nenhumas respostas. Ontem
apercebi-me que deixei de acreditar no que faço. Entrei para a faculdade a
pensar que queria trabalhar em conservação da natureza. Que queria salvar os
animaizinhos, devolver-lhes a vida e o espaço que lhes temos vindo a roubar.
Era um sonho bonito e inocente. Era algo que me satisfazia e que não implicava
necessariamente a extinção da raça humana. Algures pelo caminho apercebi-me que
este mundo é cruel e feito de interesses. Que tudo rodopía à volta de dinheiro
e que até a conservação da natureza é um grande negócio que move milhões.
Empresas que se mascaram de verde para esconder o rasto de devastação que
causam é o que está na moda. Produções biológicas e coisas amigas do ambiente.
Valores inicialmente inocentes e que aspiravam a bons princípios passaram a ser
vestidos por toda a gente de forma hipócrita e sem a mínima preocupação pela
verdadeira raíz dos problemas. Mas já estou a divagar. Dizia eu que deixei de
acreditar no trabalho que eu própria queria desenvolver. Conservação da
Natureza. E quando ontem me apercebi disto, assim como quem de repente viu a
luz ao fundo do túnel, parece que de repente toda a minha existência se colocou
em questão. Afinal que ando eu aqui a fazer? A brincar? Para quê todo este
trabalho se no fim das contas não serve o propósito que eu queria? De que serve
andar a estudar os bichinhos se no fim não vai servir de nada? É pura perda de tempo...
e de vida. E ela é curta. Gostava de poder contribuir de forma directa. Gostava
de ver a melhoria de uma zona. A sua vegetação. A sua crescente diversidade. Os
seus bichinhos. Não quero salvar o mundo. Contento-me em salvar uma pequena
parte. Um quintal. Um pequeno terreno. Um pequeno projecto de conservação.
Sempre disse que não queria uma grande carreira. Um futuro académico não me soa
nada risonho. Quero fazer conservação da natureza a uma pequena escala. Quero
fazer disso o meu projecto de vida. E no entanto aqui ando eu perdida. Entre
bolsas e propostas de doutoramento. Num rumo claramente académico que não sinto
querer levar-me a lado algum. Oh vida que faço eu de ti? Que queres tu de mim?
Temo estar a enfiar-me na boca do lobo de forma consciente. Sinto falta da
educação ambiental, da partilha desta minha paixão pela Natureza com as
pessoas. Apercebi-me disso no outro dia quando fomos capturar bichinhos na
igreja e fomos rodeados por crianças e curiosos. É tão mais recompensador o
sorriso duma criança a fazer festinhas num morcego do que um artigo numa
qualquer revista científica... Para quê enfiar-me num mundo que sei não me
pertencer? Que sei não me dizer nada? Pode parecer ridículo, mas neste momento
da minha meia meia crise de idade/identidade, o meu ideal de vida é uma casinha
no monte, com uma hortinha de sustento, alguns animais e colmeias com abelhas.
Será que conseguiria viver disto? Haveria algum maluco neste planeta disposto a
partilhar tal vida comigo? Terei eu coragem daqui a uns anos de tomar tal
decisão de largar o “conforto” e a “segurança” da vida académica pela vida que
realmente anseio? Espero que sim... espero que não venha a tornar-se tarde de mais... espero não perder a esperança de vir a ter tal futuro. Espero :)
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