Ah e tal

"Ah e tal" parece-me um bom nome para um post... é para verem o estado em que anda esta criatividade. Há coisas piores suponho.

Bom, no post anterior queixei-me de monotonia, e como cada um tem o que pede (ou o que merece xD) esta foi obviamente quebrada.

Em primeiro lugar, a reportagem da sic na Faia Brava. Felizmente era malta porreira e nem nos chateou muito com aquelas picuices características do mundo jornalístico. Digamos que entrevistas à parte, até foi divertido acompanha-los :) conhece-se o outro lado da televisão e das pessoas que dela fazem parte. Parece que afinal não as podemos por todas no mesmo saco e algumas até gostam de fazer coisas a sério.

Semana passada, vem o fim da mesma.

Visita do sr. prof. António Luís, que para além de se trazer a ele próprio, ainda trouxe um suposto botânico (zoólogo de formação, especialista em micromamíferos) para me ocupar o tempo. Como se tudo isto não bastasse, ainda vieram 2 voluntários alunos da UA.

Que acontece ao meu fim-de-semana?

Sexta-feira à noite... descansar? Qual quê... farolada na reserva. Três coelhos e mais meia dúzia de olhos que ninguém sabia muito bem de quem eram. Que bonito... "Ah e tal, isto até resulta muito bem"... Não sei onde, mas ok... xD

Sábado... voluntários no curso de anfíbios e répteis. Eu? Também queria queria... mas lá tive que acompanhar "o professor maluco e o assistente estúpido" pela reserva, ainda por cima para ver plantinhas... Ao menos pude sair tarde da caminha =) Encontro na sede ás 9h30 (embora para variar um bocadinho tivesse que esperar mais não sei quanto tempo por alguém...) e lá fomos nós para Algodres e seguidamente Cidadelhe. Parada minuto sim, minuto não, foram quase 400 fotos em 2 ou 3 horas, e tudo claro, das minhas belas amigas. Linarias para aqui, crataeugus para acolá. Enfim, só coisas bonitas. Almoço em Figueira e quando pensava poder finalmente juntar-me ao grupo dos bichinhos, lá percebo que afinal ía ter que servir mais uma vez de guia ao senhor que aparentemente não consegue orientar-se sozinho... Tudo bem, Algodres-Faia Brava, Faia Brava-Algodres, tudo a pé já que o João precisava do carro. E nada melhor numa caminhada do que apanhar uma bela chuvada, ainda por cima acompanhada de queda de granizo. Abrigados debaixo de uma pedra, ou melhor, dum belo pedragulho, lá esperámos que o temporal passasse. Conversa? Já nem sei... qualquer coisa sobre como conheceu a ex-mulher e fugiu com ela ás escondidas, e a sua descoberta de Microtus cabrerae não sei muito bem onde. Eventualmente a chuva lá deu as suas tréguas e pudemos continuar viagem. O senhor sempre a falar, eu sempre a ouvir. Não sei... devo ter escrito confessionário na testa e nunca reparei. Verdade seja dita, que se ele não falasse, eu também pouco ou nada diria. Mas há limites... e ele surpreendentemente conseguiu ultrapassa-los. Nem tanto pela intensidade de conversa, se lhe apetece desabafar que desabafe, mas pelo abuso da boa vontade das pessoas. Estava a tarde quase no fim, quando lhe perguntei como seria amanhã, já que ele não tinha carro para se deslocar. Expliquei-lhe que eu teria que vir para campo de manhã com os voluntários para fazermos os tapetes de argila numa das charcas, mas que o poderia deixar em algum lado antes, ou depois disso. Foi aí que veio a conversa do "temos que fazer as etiquetas para pormos nas plantas". Ignorei a parte do "temos" e "pormos" na 1a pessoa do plural, e disse-lhe que o podia deixar na sede da ATN em Figueira, ao qual ele me respondeu "mas eu não quero ficar lá sozinho". Espera... pára tudo. Não devo estar a ouvir bem. Mas que é isto? Desde quando é que fui contratada para babysitter? Sim, é que o senhor é pago para trabalhar. Eu estou a ajuda-lo de boa vontade, mas também tenho mais que fazer. Não estou a ser intolerante ou será que estou? Enfim... incapaz de dizer que não, lá arranjei forma de ficar com ele na sede da parte da tarde, mas também me equipei com o portátil e me pus a trabalhar ao computador enquanto ele ficou a cortar cartolina e a fazer furos. Música ligada para minimizar a conversa e lá se passou a tarde. Que foi? Ele disse que não queria lá ficar sozinho e não ficou... A partir daí, foi ver os meus níveis de paciência a descerem vertiginosamente e o meu grau de desinteresse em tudo o que ele tinha para dizer a subir. Obviamente que isso acabou por se tornar claro (também não fiz nenhum esforço para que não o fosse), deixando-me um pouco desconfortável comigo própria, mas não consegui nem ser mais compreensiva, nem fingir simpatia, por isso... Não sei explicar, mas ele passou algum tipo de limite... Infelizmente tive que conviver com ele segunda e terça-feira, servindo mais uma vez de motorista para as necessidades do senhor. 

Na segunda censos de manhã e de tarde babysitter. O dia nasceu com todo o esplendor e no ar o cheiro a terra molhada. Não podia ser melhor :)

Terça, mais censos de manhã e transectos de mamíferos de tarde com os holandeses. Dia comprido... basicamente percorremos toda a reserva a pé, e quentinho! Há que registar o primeiro dia em que andei de t-shirt depois de um inverno de temperaturas negativas xD Os pés, esses ficaram literalmente cozidos com o andamento, após a usual molha da manhã. Pegadas de cão e raposa à parte, ainda apareceram algumas coisas giras :) 









Mas as cerejinhas do bolo foram mesmo as cobras-cegas e a cobra-de-capuz ^^

Quarta, suposto cac na faia-brava, mas quando saio da caminha ás 5 da manhã, deparo-me com um simpático bilhete do eduardo a mandar-me novamente para a cama. Parece que o antónio adiou os censos para sexta dado as más previsões meteorológicas. Ainda penso duas vezes antes de voltar mesmo para a cama, mas o tempo não me parece realmente muito simpático e dou-me ao luxo de mais 3 horinhas de sono :) Dia passado ao computador, de volta do GPS e a passar dados... Mas por volta da hora do almoço vou ajudar o Eduardo a dar de comer a um mocho pequeno de orelhas, do qual fomos encarregados temporariamente até ser levado para um centro de recuperação :) O coitado estava guardado numa caixa sem comer já há 2 dias... =/ Ainda faz umas investidas quando lhe tento pegar, mas nada demais :) À falta de melhor, lá vão uns pedacinhos de carne de frango, os quais após algum esforço ele acaba por engolir. Infelizmente, durante a noite o bichinho acaba por morrer =/ De manhã, algumas penas partidas... deve ter tentado sair da caixa até à exaustão =/

Quinta, mais transectos de mamíferos, desta vez o dia todo, dada a intensa neblina matinal no vale que me cancelou os mais ou menos habituais censos. Por volta das 10h o sol acabou por aparecer e me acompanhar o resto do dia =)

Sexta, finalmente o tão aguardado cac da faia-brava! Depois de adiado não sei quantas vezes, lá fomos nós! A equipa ATN em força! António, Fernando Romão, Ricardo, Eduardo, Quadrado e eu. Faltou a Alice e o Pinto, mas sinceramente já éramos gente a mais para contar pássaros... Escusado será dizer que começamos o percurso já relativamente tarde e que se fez quase tudo o que não se deve fazer no método. Mas isso são detalhes =P O objectivo maior era irmos todos para o campo e treinarmos o canto dos bichinhos :) Ainda vimos um casal de Sylvia conspicillata no alto da resenha e umas quantas hortensis pelo caminho, por isso já não foi mau ^^

E assim se passaram 2 semanas... Mais uma e vou para casa, mas este fim de semana tenho que me contentar com a minha própria companhia. Depois de um sábado relativamente atarefado, censos de manhã e limpezas de tarde, veremos o que o Domingo me aguarda =)


(Eu sei, eu sei, a descrição exaustiva da minha falta de paciência para o senhor das plantinhas era desnecessária... mas ele vai voltar 3 semanas em Maio... não!!! xD)