Recebi há momentos um e-mail com a lista de prémios para as primeiras observações das migradoras da Faia Brava e fui arrebatada por uma saudade tremenda. Daquele lugar inóspito e no entanto, cheio de vida. Daquele lugar no qual me sinto em casa. No meu meio natural? É o conhecer cada curva de cada caminho. Cada trilho. Cada árvore. Cada fraga. Saber que bicho anda onde. O estranhar quando não o vejo. Quando não o ouço. O saber que mais cedo ou mais tarde se vai manifestar. O ser surpreendida quando algo diferente aparece. Ai quantas saudades de percorrer aqueles montes e vales. Contemplar o selvagem Côa. Os impressionantes gigantes dos céus. O canto de um cuco numa árvore distante. O espreitar de uma tímida sylvia num arbusto. A pose atrevida de uma galerida num qualquer rochedo. O relinchar longínquo de um garrano. O esvoaçar estridente de uma desajeitada perdiz. O coaxar das rãs pela manhã. Uma raposa curiosa a fugir entre a vegetação. As pegadas de um texugo ao longo das rodeiras. O deslizar silêncioso de uma natrix. O voo mágico de centenas de borboletas. O vento gélido da madrugada. O sol escaldante de uma tarde de verão. A fascinante neblina matinal a emergir do vale. A agradável brisa ao pôr-do-sol de um dia de trabalho. O mistério e a adrenalina de uma caminhada nocturna. O vermelho fogo do horizonte no início de um novo dia. O acordar e caminhar na escuridão ao som do cântico de dezenas de estorninhos. A imensidão da paisagem agreste... Ah... podia continuar infinitamente... Como se não bastasse ainda tenho saudades doutras coisas. Coisas essas as quais também poderia descrever até ao fim dos meus dias o quanto sinto a falta. E não seria suficiente para explicar. Tenho um balão de sentimentos nostálgicos dentro de mim prestes a rebentar a qualquer momento. Mas não queria que isso acontecesse. Não... Preferia esvazia-lo. Ou ata-lo e deixa-lo ir... A primeira no entanto bem mais que a segunda...
Trabalha Vanessa... trabalha!
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