sábado, 17 de setembro de 2011

Comunhão

E sentei-me naquele lugar como se há muito o conhecesse... entre as árvores e  o Douro, deixei-me ficar...


Ali perto encontrava-se um casal talvez já com os seus 60 anos romanticamente envolvidos na paisagem e um no outro. É engraçado quando encontramos destas coisas :) Outros casais foram passando, uns com filhos, outros nem por isso.

Deixei-me ficar como mera observadora. Envolvida no cenário e na história que parecia nele se desenrolar. De repente senti-me como espectadora de um filme em tempo real e onde centenas de histórias se pareciam desenrolar num único espaço. Tantas histórias... e nenhuma delas narrada. Nenhuma delas escrita ou recordada, apenas por mim observada e imaginada.

Continuei sentada e perdida neste micro-mundo que me rodeava enquanto as personagens das histórias que não me pertenciam entravam e saiam do palco. Eventualmente fiquei só novamente. Eu, o Douro, as árvores e as atricapillas e piscos que cantavam alegremente, enchendo de música o meu mundo. Rapidamente uma pequena felosa passou a ser o centro da minha atenção. Tomava banho entre as trepadeiras de uma rocha abençoada de vida. Não sei ao certo que bichinho era, mas a ele se juntaram mais 3, tornando aquela plataforma de vida escorrente num verdadeiro palco de magia.

Continuei sentada a observar o que me rodeava e à espera. Esperava por algo. Ou alguém. Sinceramente... não sei. Mas esperei e esperei. Folhas douradas caíam do céu, muitas vezes pairando como flocos de neve numa fria manhã de inverno. Transmitiam-me uma sensação de calma... como se por uma fracção de segundos o tempo tivesse parado e eu estivesse ali para o aproveitar. Não sei exactamente dizer que tinha aquele lugar de especial. Provavelmente nada. Havia de certo lugares mais bonitos no parque. Mas aquele era-me familiar. Era como se fizesse parte das minha memórias e eu das dele. Sabe tão bem quando nos sentimos em total união com o que nos rodeia... e nos percorre aquele calafrio pela espinha acima que faz vibrar cada célula do nosso corpo... como se aquela pessoa especial nos tivesse acabado de abraçar. De repente, cada átomo do meu ser faz parte da terra sobre a qual me encontro, da brisa que me envolve e também da água que corre ao meu lado e lá em baixo no rio. As pessoas continuaram a atravessar o meu mundo. Mas assim como entravam, saíam... enquanto eu... eu continuei a fazer parte dele. Olhei para o relógio e nem queria acreditar. Já era tarde. Tinha que ir. Mas não queria despedir-me daquele lugar... não queria quebrar a ligação que consegui hoje, em muito tempo, comigo e com o mundo.

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