terça-feira, 27 de setembro de 2011

Ringing

E depois do que foi uma semana fantástica, nada melhor do que termina-la num fim de semana em grande! eheh pois é, Faia Brava lá fui eu =D Ai ai este cantinho de Portugal dá cabo de mim! Sabádo de manhã, comboio até ao Pocinho. A viagem, embora já familiar, não deixa de ser deslumbrante com o belo Douro e as suas encostas a correr ao lado da linha férrea. Pela hora de almoço lá chego a Figueira e dou logo de caras com o António e as suas pequeninas no jardim. Conversa para aqui e tal, e sigo com eles para ver os Garranos que estão, graças à falta de comidinha na reserva, de férias no convento. São uns bichos muito amigáveis =) e sempre um prazer de ver e fazer meia dúzia de festinhas :) Garranos contados, vou almoçar a casa do antónio em castelo rodrigo e entretenho-me a brincar com as pestinhas. Como é bom ter menos de 5 anos :) a curiosidade que lhes corre nas veias deixa-me sempre fascinada. É aquele olhar atento que nos lançam quando contamos ou explicamos alguma coisa... Aquele (sor)riso genuíno que soltam quando acham piada a alguma coisa... enfim :) depois de contada a história da barbie mosqueteira e de lhes explicar (e exemplificar =P ) como perdi as cócegas quando era pequenina, segui monte abaixo em direcção a Figueira. Sabe sempre tão bem quando regresso "a casa". Não consigo deixar de me sentir assim quando vou para aquelas bandas. Já no final da tarde fui passar com o sr. nabais e os amigos até à Faia e fiquei finalmente a conhecer a nova organização das "Hortas da Sabóia" , centro de operações da reserva e espaço de recepção aos visitantes. Tenho a dizer que está muito fixe :) ficou tudo arrumadinho e organizadinho! Um dos casebres foi finalmente recuperado e as mesas de piquenique foram finalmente mudadas para um local fresco, debaixo de uns agradáveis freixos. Abandono o pessoal ao cair do dia e fico pela Sabóia enquanto eles seguem para cidadelhe. Aproveito para apreciar o pôr-do-sol e o recolher da passarada enquanto a noite me acolhe. Já envolvida pela escuridão, entretenho-me à luz do telemóvel a tentar identificar uma petinha que encontramos com um problema nas asas no espaço dos Garranos. Parece-me ser uma petinha-dos-prados, mas não sei :P Entretanto lá chega o Eduardo e seguimos para o alto da Santa Bárbara a fim de fazer umas horinhas de vigilância contra incêndios. A noite foi fresca e calma, os morcegos fizeram-nos companhia o tempo todo a caçar os insectos atraídos pelas luzes da capela. Além destes, 2 noitibós passeavam-se por ali, ora pousando nos postes e fios, ora esvoaçando atrás de alguma coisa. Aproveitamos para colocar a conversa mais ou menos em dia e para jantar, e o tempo até passou rapidamente. O anúbis entretanto deitou-se ao meu colo, protegendo-me assim do frio eheh :)

Vigilância terminada e seguimos para casa, eu directamente para cama depois de um banhinho rejuvenescedor, e o resto do pessoal ainda ficou a engonhar na cozinha. Apesar da semana não ter tido direito a muitas horas de sono, acordei por volta das 7.30 com pardais e estorninhos a escorregar no telhado. Ainda tentei voltar a adormecer, mas entretanto fartei-me de estar na cama e fui dar uma voltinha. Nas ruas ouvia-se o cântico de centenas de estorninhos espalhados um pouco por todo o lado e por momentos consegui recordar as manhãs em que isto era a minha rotina. Bons tempos esses em que não saia de casa de phones nos ouvidos para não ter que levar com o ruido citadino. É tão mais agradável os estorninhos a chilrear com os seus assobios melodiosos =) Aproveitei a volta para passar no supermercado e trazer qualquer coisa para fazer para o almoço. Nada de muito elaborado (esparguete á bolonhesa vegetariano é sempre algo rápido e fácil de cozinhar) e ainda trouxe uma caixa de gelado para partilhar com o pessoal, mas mais ninguém almoçou propriamente... pelo que ficou quase cheia no congelador para comerem mais tarde.

A tão ansiada hora de partida para a reserva a fim de conseguir montar as tendas antes da chegada do pessoal da anilhagem lá chegou e seguimos de defender até à Sabóia. Montamos as coisas e ainda tivemos tempo de ir tomar qualquer coisinha ao café do sr. henrique. Esperamos e esperamos pelos ditos cujos, mas deles nem sinal. Tinha ficado combinado que nos ligariam quando chegassem, mas... quase ás 17.30 recebemos uma chamada do antónio a dizer que eles já se encontram na reserva. Enfim... há pessoas assim :P Quando lá chegamos já andavam eles atarefados com material dum lado para o outro a montar as redes. Ajudei no que pude e na hora de fechar as redes ainda apanhamos meia dúzia de bichinhos. Papa-moscas (Ficedula hypoleuca) em passagem, um rabirruivo-de-testa-branca (Phoenicurus phoenicurus), meia dúzia de chapins-azuis (Parus caeruleus) e mais tralha que já nem me lembro bem. Os bichinhos passaram a noite dentro dos sacos e só foram processados na manhã seguinte, pelo que pudemos jantar com calma e ainda montar mais uma rede para tentar apanhar noitibós. Ao contrário do que estava à espera, acabei por dormir não dentro do defender, mas sim dentro da caravana do antónio que decidiu também dormir por lá :) De qualquer das formas o melhor do "fim-de-semana" foi mesmo a segunda-feira, pois apesar de não termos apanhado um número abusivo de bichos (cerca de 100), surgiu uma boa variedade de coisinhas :) trepadeira-azul (Sitta europaea), cotovia-escura (Galerida theklae), noitibó (Caprimulgus europaeus), taralhão (Muscicapa striata), papa-amoras (Sylvia communis), a bela da toutinegra-dos-matos (Sylvia undata), fora as de barrete (Sylvia atricapilla), cabeça-preta (Sylvia melanocephala), e de bigodes (Sylvia cantillans). Caiu também um picapau-pequeno (Dendrocopos minor), assim como alguns cartaxos-nortenhos (Saxicola rubetra) e duas poupas (Upupa epops), já para não falar nas coisinhas mais comuns como os chapins (Parus major e caeruleus), trepadeira-comum (Certhia brachydactyla), melros (Turdus merula) e não me ocorre mais nada. Toda a gente presente teve direito à sua cota de bichinhos para anilhar e eu "re-iniciei" mais uma vez esta gira actividade. Depois de 3 míseros pardais anilhados no Parque Biológico de Gaia, fiz meia-dúzia de espécies novas, embora não ligue especialmente ao acto de anilhar, mas sim ao facto de poder ver o bicho na mão e de lhe mexer :P



E foi assim. Acabou-se a papinha-doce infelizmente. Para variar não me importava de continuar nesta vidinha mais uns dias (semanas, meses, etc...), mas é assim a vida. Estou de volta ao laboratório e aos tubinhos...

Ps: quase me esquecia, mas recebi o maior ego-boost dos últimos tempos de um senhor já com uma certa idade e experiência nesta coisa da anilhagem ao dizer-me que se eu continuasse a participar em sessões, tinha potencial para me tornar uma grande anilhadora =P agradeci carinhosamente o elogio (embora ache que tenho que discordar xD ) e ainda perguntei por que razão disse ele tal coisa, mas a única resposta que obtive foi um "Well... I've seen you today... and how you handled the birds... and I truly think you can become a great ringer. Don't give up!". Enfim, foi simpático da parte dele e sabe sempre bem ouvir estas coisas, mas para além de não concordar propriamente, não sei... acho piada lidar com os bichinhos e tal, e seria um "passatempo" sem dúvida interessante, mas...... a ver vamos o que a vida me reserva =) Uma coisa é certa, não me importava nada de repetir e muito menos naquela região =)

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